segunda-feira, 13 de junho de 2011

Chega de Hipocrisia e Humilhação!!!









Hoje, dia 13 de junho, feriado municipal em Imbuia - SC, cidade onde moro e trabalho, acordei mais aliviada, sem aquele típico "peso de consciência" que me acomete há algumas semanas, desde que foi deflagrada a greve de professores do estado, da qual faço parte, desde o primeiro dia, 18 de maio.

São quase 30 dias de greve...


A cada manhã, quando acordo, entro em conflito comigo mesma...


Por um lado, gostaria de retomar à normalidade, acordar, tomar meu café, arrumar-me, pegar meus materiais e seguir para a escola, onde tenho 40 aulas de aula de Língua Portuguesa para turmas de sextas, sétimas e uma oitava série. Afinal, tenho um planejamento a seguir, muito conteúdo a ser trabalhado, muita coisa que meus alunos precisam aprender, ainda este ano. Como educadora, tenho um papel primordial na formação desses seres, muitas vezes, até mesmo, abandonados pela própria família, carentes de tudo, principalmente de atenção.



Por outro lado, eu estudei muito, fiz faculdade, pós-graduação e mestrado, não posso ficar alienada. Sou, assim como meus colegas professores, a parte esclarecida dessa sociedade. Como posso calar-me??? Que lição estarei dando aos meus alunos, se me acomodar, aceitar tudo, ficar de braços cruzados, dando "mal e porcamente aulinhas" (afinal, para sobreviver, a maioria precisa de 60 horas semanais, mais as horas-atividade, praticamente moram na escola, sem tempo para nada, nem mesmo preparar aulas...), sendo mal remunerada, desvalorizada, pisada, trapaceada pelos governantes?


Assim, como educadora, formadora de opinião que sou, PRECISO e DEVO lutar pelos meus direitos. Mesmo que seja humilhante, que me sinta constrangida, preciso gritar, berrar pelas ruas o tamanho da minha indignação. Não posso aceitar o abandono da educação pelo estado, o descaso dos governantes para com nossa classe. Não posso me calar frente às dificuldades diárias que enfrento, no dia a dia da sala de aula.


Como posso formar um cidadão digno, se sou tratada com o mínimo de respeito e dignidade? Como posso exigir que meu aluno estude, se o meu próprio estudo não é mais valorizado pelo governo? Com que cara entrarei na sala de aula e falarei a meus alunos que eles precisam estudar para conseguir um futuro melhor, para se dar bem na vida, para ascendir socialmente?


Eles próprios, nossos alunos, não nos respeitam, não nos veem como autoridades, porque sabem que somos uns "pobre-coitados", que (sobre) vivemos às custas de um salário de fome, que não temos moral nenhuma para obrigá-los a fazer coisa alguma por eles, quando não conseguimos sequer fazer algo por nós mesmos....



Agora é a hora!!! Chega de humilhação, chega de propaganda enganosa na TV sobre a qualidade da educação, quando nao há mer... nenhuma de preocupação com a qualidade! O que os governantes querem é quantidade, quer dizer, quantos alunos "passaram de ano", independente se aprenderam ou não... Assim, resta a nós cumprir as ordens que vem de cima, por exemplo, o que vivenciamos no ano passado, quando a ordem foi a seguinte: "Este ano TODOS os alunos da quinta série passarão de ano!". Sem saída, obedecemos, e agora temos analfabetos nas sextas séries... É assim que caminha a educação!!!



Não há preocupação do Estado quanto ao produto-final, por isso o péssimo desempenho de nosso alunos, que saem do Ensino Médio semi-analfabetos...


A culpa é nossa? É o professor que não ensina nada?



NÃO!!!!!!!!



A culpa é de todo um histórico de desvalorização do professor como profissional. O professor passou a ser visto como escória da sociedade, como um coitado... Podemos saber muito, podemos ter muito conhecimento, muitas coisas a ensinar a nosso alunos... e com certeza temos!!! Mas... nós não somos respeitados, muitas vezes temos que pedir licença pra dar aula, pra explicar, porque os alunos não nos deixam falar, não param para escutar, até mesmo, desafiam nossa capacidade, detonam com nossa auto-estima, ofendem-nos, agridem-nos verbalmente e às vezes fisicamente...



Enquanto não resgatarmos nossa dignidade, continuaremos a perder a credibilidade junto aos nossos alunos. Eles querem exemplos de pessoas que se deram bem na vida, como Ronaldinhos, feras do videogame, heróis de ficção, já que a realidade não se apresenta muito atrativa...



Prova disso é que nos últimos anos temos nos dado conta de que os alunos "melhores" não vão para a área da educação; para a educação vão os péssimos alunos ou medianos, aqueles que não se destacariam em outras áreas.... É pra onde caminha a educação... Para o precipício, decaindo cada vez mais.



Nós, professores, nos tornamos marionetes nas mãos de governantes "burros", semi-analfabetos, que querem tão somente se auto-promoverem e que utilizam a famosa "educação como prioridade" para ganhar votos, entrar lá no ninho da corrupção, do descaso, do "que se dane a população", afinal, eles entram lá porque nós colocamos, mas não podemos exigir nada ou cobrar nada deles...



Que país é esse que não valoriza a educação do povo? Claro, querem um povo ignorante, uma massa facilmente moldável, que não pense, que não reflita, que fique quieto em seu canto "comendo o pão que o diabo amassou", que não reclame, que se conforme...


A sociedade, os pais, os alunos, os governantes, os colegas que não aderiram à greve que critiquem-nos, mas sabemos que temos razão em tudo que pedimos... Queremos respeito à lei. Nós cidadãos temos que cumprir às leis, porque os governantes não precisam?


A greve continuará sim, pelo tempo que for necessário... Até que o governo resolva nos tratar com dignidade. Chega, basta de hipocrisia!


Caros pais e alunos, se o ano letivo for comprometido, sinto muito, a culpa não é nossa, é do governo que não cumpre a lei.


Outra coisa, dizem que só queremos dinheiro, sim, queremos sim, estudamos pra isso, investimos dinheiro também em nossos estudos. Portanto queremos sim ser melhor remunerados, pois nessa sociedade capitalista, sem valores, vale mais quem tem mais... Deixem de hiprocrisia, de críticas, cada um luta com as forças que têm por seus direitos. Se os agricultores se veem prejudicados, também vão à luta, pegam seus tratatores, trancam as estradas e, em questão de meia hora, tudo se resolve... Mas nós temos que ficar tempo parados para que percebam que somos importantes, porque nosso trabalho é tão importante, tão importante que chega até a ser esquecido. Só se lembram de nós quando fazemos greve, fora disso, somos meros professores, coitados, "que trabalham na sombra, ganham bem e ainda fazem greve...". Chega disso! Queremos respeito de alunos, pais, sociedade em geral...


São 20 anos que tenho de trabalho na educação, sendo que nesses 20 anos só vi as coisas piorarem em minha área. Chega!!! Todo mundo sabe que "é na escola que se forma um cidadão, é na escola que se muda uma nação" (Leci Brandão) . Então, que cidadão queremos formar e em que nação queremos viver?



À luta, companheiros!!!



Msc. Marisa Fermino

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